Lâminas


   A chuva chegou de repente com suas nuvens carregadas deixando a noite com um aspecto tenebroso, a água castigava o telhado e o vento invadiu a casa sem permissão, portas e janelas batiam a seu bel-prazer, deitado na cama Dahlon olhava para o teto, caçula da família era bem fácil levar a culpa de tudo que acontecia de errado em casa e não ter defesa alguma, e era exatamente o que tinha acontecido mais cedo, estava ali justamente por culpa de seu irmão mais velho.

- Que foi miniatura? – Davi apareceu na porta do quarto, braços cruzados e um riso irônico no canto da boca. - Chateado?

- Me esquece Davi – Dahlon pegou um travesseiro e ficou de bruços.

- Fica de boa filhote de tartaruga, irmão mais novo é pra isso mesmo. – Sentou na cama enquanto limpava uma mancha no sapato. - Só serve pra levar a culpa pelos nossos erros, afinal não dá pra culpar o cachorro por tudo não é?

   Dahlon continuava calado, com o travesseiro na cabeça.

- Só mais uma coisa anão, amanhã na piscina fica longe de mim e dos meus amigos, se não vou te usar como bóia. - Dahlon escutou os passos se distanciando, correu e trancou a porta do quarto, usá-lo como bóia ele sabia que Davi era capaz daquilo e muito mais.

   No dia seguinte Dahlon acordou antes de todos, preparou a mochila e ficou na cozinha esperando os outros acordarem.

- Dahlon, já acordado?

- Sim Pai, e já tomei café.

- Bom garoto, então vá chamar seus irmãos, vocês vão se divertir muito hoje.

   Dahlon hesitou, mas foi até o quarto de Davi, bateu uma vez e não escutou resposta, a porta estava entre aberta, ele ensaiou um olhar além da porta, e foi surpreendido pelo irmão que segurou seu braço forte enquanto acendia um cigarro.

- Quantas vezes eu já te falei aberração? Quantas? – O cigarro pendia na boca.

- O que? – O medo em seus olhos era visível.

- Nunca entre no meu quarto. – Tirou o cigarro da boca e brincou com ele entre os dedos.

- Mais eu, eu... Ah! – Apagou o cigarro no braço de Dahlon. – Se contar que eu estava fumando, te mato afogado, e se contar que eu apaguei o cigarro em você eu te trago de volta em uma sessão espírita só para te matar de novo.

   Dahlon enxugou as lágrimas, engoliu o choro e passou rápido pela cozinha.

- Ele já vem pai, vou esperar lá fora. – Entrou no carro e sentou no banco de trás com os braços em volta da mochila.

   O dia na piscina era uma tradição da escola, antes das férias todos os alunos eram levados ao parque aquático para um dia de diversão, era a primeira vez de Dahlon lá, mas um dia antes tinha visitado o local com sua mãe para confirmar umas coisas em relação à segurança do parque, hoje no entanto seria apenas diversão, chegaram ao parque e se despediram do pai que foi embora logo em seguida, Davi abandonou o irmão e se juntou aos amigos bem rápido, e sua irmã correu para o banheiro com algumas colegas, Dahlon pegou sua mochila e foi reconhecer o lugar.

- Ela nem sabe que você existe Davi.

- Até o final do dia ela vai estar aqui, na minha mão. – Davi falava com o amigo enquanto olhava para uma colega de sala.

- Olha só Davi, lá vem o seu irmão, vamos nos divertir um pouco?

- Demorou. – Os cinco ficaram em volta de Dahlon. – Aonde você pensa que vai duende?

- No tobogã, nossa mãe comprou esses ingressos ontem, me dá o direito a não enfrentar filas, to esperando por isso já faz um mês é dia de estreia.  – Ele tentou se livrar dos cinco.

- Não, nada disso, não vai mesmo. – Davi segurou Dahlon pela orelha e pegou seus ingressos. – Senta ai, hoje você não vai entrar na piscina, vai ficar sentado no sol e sem comer, da uma olhada, agente vai se divertir no Tobogã graças a isso. - Ele balançou os ingressos na frente de Dahlon.

   Davi e os amigos saíram rindo na direção do Tobogã que ainda não tinha sido aberto ao público, foram para o inicio da fila, ele procurou Dahlon na multidão que estava no mesmo lugar olhando em sua direção, Davi deu seu risinho irônico e desceu, primeiro em linha reta, o tobogã deu uma pequena volta para logo em seguida dar outra maior, ele era enorme o maior brinquedo do parque aquático, os amigos o seguiram, o final do Tobogã era em linha reta uma queda de 8 metros, Davi descia rápido e quando passou pela parte final do brinquedo sentiu uma dor descomunal que ia dos pés as costas, sendo rasgado por inteiro, quando caiu na água e voltou a superfície a piscina estava vermelha, sangue, os amigos caíram em seguida e ele pode ver suas costas, a carne a amostra o sangue jorrando sem parar se misturando com a água da piscina, enormes fios de pele pendiam de suas costas e mais e mais pessoas caindo na água, ele olhou para o tobogã e viu lâminas que brilhavam refletindo o sol, estavam de uma ponta a outra na parte final do tobogã, ele gritou e seus gritos se misturaram aos gritos dos outros, a dor era insuportável.
   
   Dahlon pegou sua mochila enquanto as pessoas corriam em direção ao tobogã, tirou uma embalagem prateada e jogou no cesto de lixo, seguiu calmamente em direção a uma pequena piscina e deu um mergulho.

   Em um parque aquático lotado, crianças e adolescentes esperam o brinquedo mais cobiçado ser liberado, o tobogã, todos querem ser o primeiro a deslizar pelo gigante e mergulhar na piscina sendo observado com inveja pela multidão, todos querem ser o primeiro, só não sabem que no final do brinquedo várias Lâminas de barbear afiadas os esperavam, para dilacerar seus corpos, colocadas ali por algum maníaco bem mais cedo.
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