O Parquinho



  A chuva chegou depressa, e já não era a névoa fina e incerta que deu bom dia a todos logo cedo. Molhada e com a roupa colada ao corpo Elizelma andava pela rua deserta, só mais cinco minutos e estaria em casa, abriu o portão.

  Ele olhou pela janela com seu rostinho brilhante de alegria, examinando o pequeno caminho de pedras, quando a viu seu rosto iluminou-se.

- Mãe.

  Sem capa, guarda-chuva ou qualquer outra proteção ele saiu correndo em sua direção, ela abriu os braços, pura inocência e amor, ele a apertou comprimindo a umidade de sua roupa molhada no corpo da mãe sem se importar com a chuva.

- Vamos entrar Elias.

- Vamos tomar banho de chuva mãe. – Falou puxando seu braço na direção da rua.

- Não, você pode ficar doente.

- Por favor, mãe.

- Não, me obedeça e prometo levar você no parquinho.

- Parquinho? – Ele correu com os braços abertos imitando um avião, gritando “parquinho, parquinho” e entrou em casa.
 
  Elizelma era uma mãe dedicada e compreensiva, sempre disposta a fazer a alegria do pequeno Elias de seis anos, quando ele estivesse merecendo claro. O parquinho era o sonho de consumo das crianças da cidade, elas sonhavam com as gangorras, balanços, o chapéu mexicano e os escorregadores, a casinha que levava até o escorregador principal era o auge do passeio para elas.

   A chuva se foi aos poucos e a noite chegou junto com a cobrança da promessa para o dia seguinte.

- Pronto mãe, já jantei, tomei banho, escovei os dentes e vou dormir. – Elias tentava agradar de todas as formas, para não haver mudanças de planos – A senhora não esqueceu não é?

- O que?

- Mãe. – Juntou as mãos próximas ao queixo.

- Claro que não, amanhã à tarde vou levar você ao parquinho para brincar com as outras crianças, já é a décima vez que falo – Elias sorriu e correu para o quarto, pensando que quanto mais rápido dormisse mais rápido iria acordar no dia seguinte, e logo estaria brincando no parquinho. Minutos depois Elizelma chegou à porta do quarto para apagar a luz, se aproximou da cama, e naquele momento seria capaz de perdoar qualquer travessura de Elias, seus cabelos colados na testa pelo suor, um leve riso nos lábios, devia estar aprontando alguma coisa nos sonhos, ele era seu porto seguro nos momentos tempestuosos.

  O dia seguinte chegou, e Elias estava eufórico, tinha feito muitos amigos da última vez que foi ao parquinho, sempre alguns passos a frete da mãe ele acabou chegando primeiro ao grande campo de areia, avistou as outras crianças ao longe.

- Eu vou lá. – Elias deu um abraço forte em Elizelma. – Obrigado mãe, se agarrou mais a ela. – Eu te amo.

- Quanto? – Falou Elizelma fingindo um tom de desconfiança.

- A metade do infinito. – E quanto será a metade de um amor infinito? Ele se soltou de Elizelma e correu na direção do parquinho, sendo recebido pelas outras crianças, pegou um lugar no chapéu mexicano, Elizelma sentou no banco da praça e entre a troca de uma página e outra da sua revista na tela de seu Smartphone ela observava o que Elias estava aprontando.

  Elias parou em frente ao maior escorregador do parquinho, olhou para a casinha que as outras crianças estavam evitando por que ainda estava molhando desde a última chuva, mas Elias não se importava, ele iria descer o grande escorregador, subiu lentamente as escadas, olhou para Elizelma e acenou. Ela retribuiu com um largo sorriso, entrou na casinha, passou pelo pequeno labirinto, algo chamou sua atenção no canto escuro antes da porta de saída, ele se aproximou.

  O ambiente frio e úmido serviu para atrair ela até ali, com o corpo entorpecido em forma espiralada em posição de descanso, a Jararaca pressentiu a aproximação de alguém, seu sistema nervoso entrou em posição de alerta, sua língua bífida se projetou várias vezes para fora da boca, sua cabeça se moveu em todas as direções, procurando o motivo desse alarme, sentiu a onda de calor vinda do intruso que invadiu seu território, sua musculatura se distendeu, com a boca escancarada se projetou contra o alvo, um tiro certeiro, sua boca se fechou sobre uma superfície macia, injetando sua letal substância tóxica.

  A Jararaca soltou o braço de Elias e rastejou para fora da casinha, ele gritava pela mãe, mas seu grito foi abafado pelo barulho das outras crianças no parquinho, sentiu um aperto no coração, sua voz falhou, os risos que vinham de fora ficavam cada vez mais distantes, fechou os olhos lentamente com uma respiração pesada, em questão de minutos estava morto.

  Uma criança vai ao parquinho, se divertir, entra em um dos brinquedos, e acaba morrendo porque ninguém reparou que ali havia um animal venenoso, nem o mais inocente ser escapa da fúria da natureza.
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