Mãe me perdoa

  

  
  Cecília estava presa no trânsito, a menos de dez minutos de sua casa, sentia que uma crise de enxaqueca estava a caminho e não podia acreditar, que semana terrível, problemas no trabalho, casamento em crise e os filhos a enlouquecendo, estava usando o horário do almoço para pegar alguns documentos que havia esquecido, sem paciência para esperar desceu do carro e foi andando até em casa, o sol escaldante não deu trégua durante todo o caminho, minutos depois finalmente estava em casa, abriu a porta e não pode acreditar no estado que estava à sala.

- Eu não acredito quantas vezes vou arrumar essa bagunça? – Recolheu as roupas do chão enquanto andava em direção ao seu quarto. – Ninguém tem piedade de mim, só sabem sujar, comer, suja e comer, sujar e dar problemas.

  Passou pelo quarto de seu filho mais novo e percebeu que a porta estava entreaberta, se aproximou e entrou, tentou ligar o interruptor, mas o mesmo estava emperrado, a luz do corredor iluminava um pouco o local, no canto do quarto de costas pode perceber que seu filho estava abaixado.

- O que diabos você está fazendo em casa a essa hora Rodrigo? Você deveria estar na escola. – Falou furiosa parada na entrada do quarto.

- Mãe me perdoa. – Disse Rodrigo com a voz trêmula, sem emoção.

- Perdoar? O que você andou aprontando, eu disse que a próxima não iria ter perdão. Menino você sempre está armando alguma coisa, eu juro que não sei mais o que fazer, onde estão seus irmãos? – Ela agarrou as roupas que havia recolhido, estava visivelmente alterada.

- Mãe me perdoa. – A voz saiu mais baixa e com dificuldade.

- Você não sabe falar outra coisa? Eu juro Rodrigo que vou te dar uma surra, o que você quebrou agora? Vamos fala. – Jogou as roupas no chão e partiu na direção do menino, tomada pela cólera, foi interrompida pelo toque de seu celular, parou no meio do quarto tentando controlar sua raiva. – Aposto que brigou de novo na escola. – O celular continuava a tocar insistentemente.

- Mãe me perdoa, eu te amo mãe. - Falou soluçando. 

- Cala sua boca! – Estava descontrolada. - Não adianta, você não vai escapar vou te dar uma lição, garanto que vai pensar duas vezes antes de fazer qualquer coisa. – O celular voltou a tocar. – Celular desgraçado, onde está minha bolsa? – Ela saiu em direção ao corredor.

- Mãe me perdoa, me perdoa mãe, por favor, me perdoa. – A voz trêmula ficava mais fraca a cada momento.

- Cala boca! Você e esse maldito celular vão acabar me deixando louca! Louca! – Procurava o celular dentro da bolsa, atendeu, a casa ficou em silêncio e já não se ouvia mais a voz de Rodrigo.

- Alô.

- Dona Cecília?

- Sim. – Virou na direção do quarto. - Quem é?

- Aqui é o Diretor da escola de seus filhos, tenho algo muito delicado para informar, não é o tipo de coisa que deve ser dita por telefone, mas a situação é complicada.

- Eu sabia, foi o Rodrigo não é? O que esse desgraçado fez agora? Pode falar. – Seguiu para o quarto do filho, seu olhar era puro ódio, respirou fundo e parou no corredor em frente ao espelho.

- É difícil senhora, não sei como começar, acontece que Rodrigo subiu no... – Ele não conseguiu terminar a frase, Cecília o interrompeu.

- Não se preocupe, seja lá o que for eu vou resolver isso, Rodrigo! Rodrigo! Venha aqui, agora.

- Senhora, ele subiu no telhado em um momento que ninguém estava por perto, não sabemos como ele foi parar lá, mas ele acabou se desequilibrando e caiu, sofreu uma forte pancada na cabeça,  fizemos o possível, mas quando a emergência chegou ele já estava morto.

  Cecília ficou muda, aquilo devia ser alguma brincadeira, sua respiração estava se tornando pesada, encostou as duas mãos no espelho e pelo reflexo viu Rodrigo junto à porta, pálido, o olhar vago, banhado em sangue, com um grande corte na cabeça, ela virou rapidamente e correu na direção do seu filho que não estava mais lá, desesperada gritando pelo menino, procurou em todo o quarto, as lágrimas turvavam sua visão, não desistiu e continuou procurando pela casa inteira.

- Senhora, alô, dona Cecília a senhora está ai?

  Cecilia desabou no meio da casa, as lágrimas inundaram seu rosto, abraçada a uma camisa de Rodrigo ela chorou, sentia uma dor tamanha que jamais imaginou ser possível sentir, arrependida por ter perdido a última oportunidade que lhe foi oferecida para se despedir de seu filho.

Comentários
5 Comentários

5 comentários: