Iladar: O roubo - Parte final




- Nsin, acorda. – Entil e Malli tentavam reanimá-lo, a porta bateu e a criatura que os tinha atacado entrou.

- Agora crianças vocês vem comigo. – A criatura se aproximou envolvendo os dois nos Braços e partiu.

- Nsin! Acorda! Você matou meu irmão! – Eles se debatiam e gritavam em desespero, mas não podiam fazer nada para ajudar o irmão.

  Nsin estava inconsciente, já não dava mais para escutar os gritos das crianças, a porta abriu e o Velho se aproximou, deu a volta no corpo e o olhava agora de cima.

- Eles não estão mais por perto pode parar de fingir.

  Nsin abriu os olhos, estava chorando, sentou e limpou as lágrimas.

- Aqui o seu ouro garoto. – O Velho jogou um saco nos pés de Nsin. – O que foi mudou de ideia?

  Nsin olhou para Descon e sua mente o fez voltar a dois dias atrás quando ele tentou roubar o velho na cidade, ele andava pela rua, Nsin o seguiu até a entrada de um beco, perfeito, pensou, quando ele entrou o velho não estava lá, aonde ele teria ido afinal o beco era sem saída, em uma questão de segundos ele estava no chão imobilizado pelo velho.

- O que foi garoto? Planejava me roubar?

- Me solta velho, eu não ia fazer nada.

  O velho o levantou e jogou no chão novamente, sentou em uma pedra, e disse que poderia matá-lo de mil maneiras diferentes, mas se o matasse como iriam se virar seus irmãos? Questionou se ele desejava que os garotos levassem essa vida para sempre, se não queria que eles tivessem uma oportunidade, foi então que ele ofereceu ouro em troca deles, não era um pagamento, ele não estaria vendendo os irmãos, o ouro era só uma ajuda, e o velho educaria as crianças e as daria uma chance de viverem nesse mundo e seriam como seus filhos.

- Vai ter coragem de se tornar passado para assegurar o futuro de seus irmãos?

  Nsin pensou muito e resolveu aceitar, mas teria que ser de seu jeito, para que eles não o odiassem, afinal ele os amava e só queria o bem deles, combinou toda a farsa do roubo, a flecha envenenada que na verdade era apenas uma mistura, o ataque da besta foi uma surpresa fora isso tudo saiu perfeito.

- Claro que não desisti, eu tenho palavra, só espero que os trate bem, você me prometeu, e jamais revelar nada disso não quero que eles me odeiem.

- Não se preocupe garoto, nada disso está em meus planos. – O velho riu.

- Como vai explicar a minha morte?

- Isso é comigo.

  Nsin levantou pegou o ouro olhou pro velho e saiu, não conseguia segurar as lágrimas, as lembranças de toda a vida afloravam em sua mente, mas era melhor que fosse assim, eles mereciam uma vida melhor, deu uma última olhada para a casa.

- Sorte, irmãos.

  O velho o olhava da janela, depois desceu para o porão, as crianças estavam trancadas em uma jaula, o velho as olhou bem e viu o medo em seus olhos.

- Vamos dar inicio ao ritual.

  Njabe colocou as crianças amarradas no meio de um pentagrama que estava desenhado no chão junto com vários outros símbolos, enquanto o velho tirava os lençóis dos espelhos, eles refletiam as luzes, as crianças choravam. Em movimentos sincronizados o velho e Njabe juntaram os dedos médio e indicador da mão esquerda.

- Oiab. – Falaram em uníssono, baixaram a cabeça. – Molap.

  Uma névoa invadiu o local lentamente, as crianças tentavam se livrar, enquanto Descon e Njabe continuaram o ritual direcionando os dedos indicador e médio da mão direita ate o ombro esquerdo.

- Baeouib. – Com o dedo indicador e médio tocaram o ombro direito.

- Iehusoz. – Uma luz os envolveu, um tremor leve abalou o chão, o ambiente ficou frio, os dois estavam com os braços cruzados, entrelaçaram os dedos da mão esquerda na altura do peito.

- Gahoachma. – As crianças gritavam de medo, Entil conseguiu soltar o pé e chutou um dos espelhos, o gato que observava tudo se assustou pulando e derrubando os espelhos em um efeito dominó e se equilibrando em cima de um maior que ficou de pé, o som de vidro quebrando ecoou pelo porão, as crianças sentiam que algo estava sendo sugado de seus corpos, Entil já tinha ouvido falar daquilo, era um ritual de troca de corpos, Hudu, o velho e sua serva queriam seus corpos, uma espécie de cordão prateado ligava a alma do velho ao corpo de Entil e o de Malli ao de Njabe, o gato na tentativa frenética de saltar em um lugar seguro caiu no meio do pentagrama junto com o grande espelho onde estava se equilibrando, um forte tremor abalou tudo e uma enorme pressão jogou o gato longe, o silêncio tomou conta do lugar.

- Maldição, Njabe, acorda, acorda. – Njabe não se movia, um pedaço de espelho estava cravado em sua garganta, Quanto tempo ele tinha ficado desacordado? Será que suas almas teriam conseguido completar a travessia antes que ela fosse atingida? Pensou, retirou o espelho de sua garganta, limpou o sangue e viu seu reflexo. – Deu errado, não pode ser. – sua alma não foi parar no corpo do menino e sim para o da menina, ele olhou ao redor, os outros corpos haviam sumido, o do menino e o do velho, ele levantou.

- Esse corpo deve me servir até eu conseguir encontrá-los. – Ele sabia que tinha que achá-los, não só para trocar os corpos, mas também por que parte de seu poder acabou sendo transferido para um dos espíritos na troca, ele subiu a escada, e viu o que tinha sobrado da explosão, reuniu aquilo que poderia ser útil e partiu.

  Entil acordou, se sentia mal, não estava mais no porão olhou para os lados e viu um celeiro iluminado devia ter alguém lá e quem sabe poderiam ajudá-lo ele sabia disso, não conseguia se equilibrar, correu, passou pela porta, ninguém, um barulho na parte de cima, ele seguiu para lá, um menino apenas um menino, ele tentou falar, sua voz falhou, ele não conseguia, o menino virou em sua direção.

- O que foi amiguinho? De onde você veio?

  Entil olhou pro lado e viu seu reflexo, em sua cabeça surgiram pelos, o rosto assumiu uma forma diferente, suas orelhas agora eram finas e pontudas, seus braços e mãos foram substituídos por patas enfim ele tinha consciência de quem era, mas seu corpo não era o seu, ele agora era um gato, o mesmo que tinha pulado no circulo.      
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