Iladar: O roubo - Parte 1




- Não é justo essas frutas apodrecerem e ele não dar uma a ninguém.

- Malli esse velho é um pão-duro, é por isso que vamos roubá-lo.

- Eu acho melhor continuar a roubar na cidade, e se for verdade que o velho Descon pertenceu à cabala.
 
- Cabala? Por favor, Entil, quem entra na Cabala não sai vivo para contar a história. Nsin fez sinal para seus irmãos se esconderem. – Vamos ficar aqui, já está quase na hora do velho sair para pegar legumes.

  Eles correram para trás dos arbustos que ficavam próximos a cerca e de longe viram o velho Descon saindo na direção da horta com uma cesta, ele sempre fazia esse ritual todo dia a mesma hora, depois saia na carroça em direção a cidade, era o momento certo para entrar e roubar o pomar e a horta, eles geralmente roubavam na cidade usavam a inocência de Malli a mais nova como isca, ninguém iria desconfiar de uma doce menina de cabelos dourados de apenas oito anos de idade, enquanto ela distraia as pessoas Entil fazia o serviço ele era o irmão do meio por vezes fingia estar manco e Malli roubava os desavisados, Nsin também usava a beleza para roubar ele seduzia as mulheres mais velhas, elas ficavam encantadas por aquele rapaz de 15 anos com uma fisionomia inocente, seus irmãos faziam o serviço enquanto ele bancava o ingênuo, eles já estavam ficando conhecidos como os demônios loiros na cidade, Nsin temia pela segurança de seus irmãos, ele era o mais velho e tinha que tomar conta deles por isso resolveu que era hora de sumir por um tempo iriam assaltar só pelos arredores da cidade, depois de uns dias de pesquisa acharam a casa perfeita a do velho Descon, alguns comentavam que aquele velho já tinha pertencido à Cabala a ordem que tentava dominar o reino de Iladar, mas Nsin achava que aquilo tudo não passava de lenda, eles observavam o velho quando escutaram um barulho vindo do caminho mais a frente.

- Vamos dar uma olhada, pode ser alguém desavisado, se for podemos assaltar. – Eles seguiram sorrateiramente e viram duas moças conversando junto à trilha.

- Vamos assaltá-las Nsin?

- Não Entil, vamos deixá-las ir, temos que nós concentrar no velho. – Nsin conseguiu escutar o nome de uma delas, Anne, ela era linda, seus devaneios foram interrompidos por uma cachorrinha, ela se assustou e correu. – Vamos voltar, vamos.

  Quando voltaram eles não sabiam mais onde o velho estava, era arriscado tentar invadir o local hoje, eles esperaram até o dia seguinte, ficaram ali por perto, e a imagem de Anne não deixava a cabeça de Nsin, no dia seguinte lá estavam os três novamente próximos a cerca de Descon.

- Olhem ele vai pegar batatas e depois pegar lenha, viram? Ele sempre faz isso, agora vai pra carroça, e quando ele sair nós entramos.
  O velho fez todos os movimentos,  exatamente como ele disse, depois de um tempo ele ouviu batidas na porteira e um som de carroça de distanciando.

- Vamos agora, já sabem façam tudo para não ficarem presos na cerca, na volta escalem próximo a estaca, Entil você sobe na árvore e derruba as frutas, Malli você recolhe e coloca no saco, eu vou roubar as batas na horta, qualquer movimento gritem o mais alto que puderem para me avisar e saiam correndo.

- Certo.

  Eles pularam a cerca de arame farpado e o plano seguiu perfeitamente bem até que uma flecha cortou ao ar passando rente a cabeça de Malli e acertando a árvore.

- Nsin o velho! – Gritou Entil que pulou da árvore pegou o saco que estava com Malli e correu em direção à cerca, Nsin fez a volta e o alcançou, jogou o saco pro outro lado da cerca e estava ajudando Entil a escalar.

- Ladrões miseráveis! Vou matar vocês! – Gritava o velho lançando flechas na direção deles.

- Entil onde está a Malli?

- Ela estava logo atrás de me. – Eles entraram em desespero e olharam ao redor, Malli estava caída perto das árvores uma flecha a tinha atingido, Nsin não pensou duas vezes.

- Você devia ter tomado conta dela, vai, corre e me espera no rio eu vou buscar a Malli.
 
- Mais Nsin?

- Rápido! – Entil saiu na direção do rio, Nsin correu o máximo que pode para perto de Malli, Descon percebeu e começou a lançar flechas em sua direção, ele correu em zig zag tentando evitá-las ficou atrás de uma árvore, pegou Malli nos braços e correu novamente com toda a força que tinha, ele esperava a qualquer momento uma flecha em suas costas, mas Descon parou de atirar, Nsin não perdeu tempo escalou a cerca e saiu na direção do rio com Malli nas costas.

- As Flechas possuem uma mistura especial, um veneno, antes da meia noite a menina vai morrer, será que vocês têm coragem de voltar para pegar o antídoto?

  A voz do velho ecoou pelo bosque, Nsin só parou de correr quando chegou ao rio, Entil se aproximou deles e viu o ferimento no Braço de Malli.

- Nsin, ela está bem?

- Ela vai ficar, só temos que retirar a flecha.

- Nsin... – Malli estava delirando.

- Calma, calma, vou consertar tudo, vai doer um pouco mas vai ficar tudo bem.

  Nsin quebrou a ponta da Flecha e de uma só vez puxou o resto que estava em seu braço, ela gritou, era uma dor infernal, eles a consolavam e ela acabou pegando no sono depois de um tempo.

- Nsin, olha o braço dela.

  Ele se aproximou e viu que envolta do ferimento uma mancha rocha começava a crescer, então lembrou o que o velho tinha dito.

- Entil as flechas tinham um tipo de veneno, segundo o velho se a Malli não tomar o antídoto ate a meia noite ela vai morrer.

- Nsin, e agora?

- Vamos voltar à casa do velho hoje à noite, temos que levar a Malli, não sabemos quanto tempo vamos ficar lá.

- E se ele estiver blefando?

- Vamos ter que pagar para ver.

  Quando a noite caiu Nsin e seus irmãos se esgueiraram junto à cerca, Malli estava ficando quente e a mancha já estava em quase todo seu corpo ela conseguia andar com dificuldade mas Nsin a carregava nas costas, ele colocou ela no chão.

- Você tem que ser forte Malli, logo vamos te dar o antídoto, só não dorme, tenta ficar de pé.

- Tudo bem.

  Nsin sabia que o velho estava ali, podia sentir sua presença, mas não sabia por que ele ainda não tinha atacado, eles chegaram próximos a janela, Nsin pulou primeiro e ajudou Malli e Entil a subirem, o silêncio preenchia o ambiente, se formos pegos seremos comida de corvos pela manhã, sussurrou para os irmãos, eles se esgueiraram pelas sombras tentando evitar que se o velho aparecesse notasse que eles estavam ali, Nsin não poderia demonstrar medo na frente dos irmãos e ele não estava com medo, tinha muitas cicatrizes para provar que não era medroso, ele tinha que ser cauteloso, tinha que achar logo o antídoto ou sua irmã morreria, a casa era grande e muitas portas estavam trancadas, as que estavam abertas os levavam para a parte de cima da casa, era como se alguém quisesse que eles fossem pra cima, subiram, no corredor tinha uma lamparina.

- Nsin, olha. – Entil apontou para a lamparina.

- Não, se eu acender seremos denunciados pela luz, esperem aqui. – Ele se esgueirou pelo corredor, barulho, como se algo estivesse se arrastando pelo chão.

- Entil fica quieto. – Ele tentava se aproximar da porta.

- Ora mais o que temos aqui? – Uma voz feminina ecoou pelo corredor.

- Senhorita não se assuste. – Nsin virou e fez sinal pros irmão virem para próximo dele, e já tentava seduzir a mulher.

- Um garoto esgueirando-se pelos corredores de meu senhor.

- Eu apenas procurava o seu senhor. – Nsin parou de falar, quando percebeu que não se tratava de uma mulher, pelo menos não Humana, a criatura que se aproximava dele tinha a altura de três homens, olhos como labaredas, corpo de serpente, no lugar das mãos afiadas garras, asas negras pendiam de suas costas e um rosto escamoso lhe lançava uma espécie de sorriso sádico, naquele momento ele percebeu que algo daquele tipo só poderia ter sido criado pela cabala ou por alguém que já fez parte dela. – Corram para aquela porta agora.

- É mesmo. – Ela partiu em sua direção e com um golpe rápido feriu seu braço com suas afiadas garras, deu um segundo golpe, ele conseguiu esquivar, aquele monstro o atacava sem piedade, ele correu na mesma direção em que seus irmãos foram, na direção da única porta naquele corredor, se ela estivesse trancada seria o seu fim, ele alcançou a porta, estava aberta, entraram, o monstro golpeou a porta com fúria, silêncio, parece que havia desistido, Olharam ao redor estavam em um quarto iluminado, velas por todos os lados, ossos que eles não conseguiam distinguir se eram de animais ou humanos, pele de animais nas paredes, um cajado com um crânio, mais a frente, desenhos estranhos, Nsin olhou o braço que ardia no lugar onde o monstro havia arranhado e começou a se sentir mal ate que desmaiou...
Comentários
1 Comentários

Um comentário: