- Olha a hora, você vai acabar chegando atrasada novamente na
escola filha! – A mãe de Fabiana gritou da cozinha em direção ao seu quarto.
- Já ouvi. – Falou para si mesma, estava parada em frente ao
espelho. – Só porque a vida dela é adiantada em meia hora não quer dizer que o
mundo também tenha que ser. – Resmungou.
- Fabi!
- Já vou mãe. – Desceu as escadas prendendo os cabelos em um rabo
de cavalo, deu um jeito nos óculos tortos e saiu procurando a mãe pela casa. –
Mãe, aparece.
- Aqui. – Saiu de trás da porta da cozinha. - Toma o dinheiro do
ônibus não vou te levar hoje.
- Por que estava atrás da porta?
- Porta? Não tenho tempo para conversas. Não esqueça de tomar café,
eu tenho que ir, se correr ainda consegue pegar seus amigos no ponto de ônibus.
- Amigos? – Fabiana olhou de lado para a mãe com ar de
interrogação, aquela palavra era um solo estéril para ela.
- Felipe e os outros, eles acabaram de passar por aqui. – Falou já
do lado de fora da casa enquanto entrava no carro. – Aproveite a visita hoje à
noite ao museu, estarei de volta amanhã.
- Tchau. – Ela ficou parada na porta da frente acenando para a
mãe. – Amigos, às vezes eu acho que a senhora não é desse mundo, eles podem ser
qualquer coisa, menos meus amigos.
Fabiana não era a garota mais popular da escola, era
perseguida por ser diferente, não se encaixar, vítima de bullying, ela não
ligava, preferia ser gorda, nerd e excluída a ter que andar com pessoas como
Felipe.
- Hora de mais um dia de humilhação. Vou retribuir isso tudo
quando eles forem meus empregados dentro de alguns anos. – Pensou Fabiana se
aproximando do ponto de ônibus, ela já podia ver Seu carrasco e os outros,
tentou não ser percebida, mas falhou.
- Olha só o carneirinho, Mééé,
Mééé, Mééé, rosto rosado, pelos branquinhos, Mééé, Mééé, Mééé. – Eles cantavam
para irritar Fabiana, ela abriu a bolsa pegou o smartphone e os fones de
ouvido. – O que foi Carneirinho, não gostou da música? – Felipe se aproximou de
Fabiana pulando, ao tentar desviar do garoto seu smartphone caiu. – Que coisa, chupeta
de baleia, Mééé. – Eles entraram no ônibus enquanto Fabiana tentava recolher as
partes do smartphone no chão, da janela eles continuaram o que tinham começado.
– Mééé, Mééé, Mééé, rosto rosado, pelos branquinhos, Mééé, Mééé, Mééé.
- Ignorar é o melhor remédio Fabi. – Falou Jeff, o único que a
tratava bem na escola, ele se abaixou e recolheu as partes do smartphone
enquanto Fabiana olhava pra a traseira do ônibus desejando que um dia o jogo
virasse. – Pronto, acho que dá para concertar.
– Obrigada. – Ela não sabia bem o que falar, esperou em silêncio e
pegaram o ônibus seguinte, sentaram separados por falta de lugar, "ele e
legal" pensou observando a nuca de Jeff enquanto pegava o smartphone para
avaliar o estrago.
– Ótimo, está quebrado, maldito Felipe. – Várias opções de seu smartphone
estavam inacessíveis. – Rádio, a minha única opção de música é rádio? Deus isso
é tão anos noventa, e só uma estação.
O dia de Fabiana seguiu normalmente, sendo humilhada sempre
que topava com Felipe e seus amigos. E na hora de voltar para casa lá estava
Felipe e os outros novamente, não tinha opção, o próximo transporte iria
demorar, pegaram o mesmo ônibus, ela colocou os fones no ouvido e sintonizou a
única estação disponível, qualquer coisa era melhor que ter que ouvi-los.
- Tudo é justo na C 101. - Estática e depois vozes - As ruas
precisam de mais segurança. – A estação foi sintonizada. – Se a polícia
estivesse por perto naquele momento, a senhora não teria sido abordada pelos
dois bandidos. – Explicava o locutor.
- Isso mesmo Boris, e por consequência não teria sido atropelada
pela bicicleta quando tentou correr atrás deles. Ela está inconsciente e
está sem documentos, aparenta ter por volta de 80 anos e usa uma blusa
vermelha.
- A única estação que pega e é sobre notícias, onde estão as
músicas? – Pensou Fabiana revirando os olhos. – Desligou o smartphone, mas não
tirou os fones, pelo menos assim ninguém iria tentar puxar conversa até o fim da
viajem, pensou olhando pela janela, o ônibus parou no sinal e uma movimentação
na rua chamou atenção dos passageiros.
- Socorro! Socorro! Esses dois bandidos me assaltaram. – Uma
senhora corria atrás de dois homens na rua, tentando alcançá-los, não viu uma
bicicleta que vinha em sua direção e acabou sendo atropelada.
Em poucos segundos uma multidão se formou ao redor da
senhora, uma ambulância foi solicitada para atender à mulher e o ônibus seguiu
seu caminho, Fabiana estava intrigada, ela tinha escutado aquela notícia há
pouco na estação de rádio, claro que assaltos aconteciam o tempo todo, mas com
senhoras sendo atropeladas por bicicletas era muita coincidência, e ainda por
cima essa senhora também estava vestindo vermelho.
Durante todo o caminho para casa Fabiana tentou sintonizar a rádio
novamente, sem sucesso, foram várias tentativas que levaram horas, na TV apenas
noticiava o atropelamento de uma senhor e não duas, era estranho e aquilo não
saia da cabeça dela, ela desistiu de tentar achar a radio novamente e resolveu
comer alguma coisa já estava próxima à hora da visita ao museu.
- Eu ando estudando demais. – Riu olhando para o smartphone em
cima da cama.
A noite chegou sorrateira e a ida ao museu foi uma reprise
daquela manhã, mas a visita foi proveitosa e tirando esses pormenores Fabiana
adorou, sempre que tinha uma oportunidade Felipe e seus amigos davam um jeito
de atormentá-la.
- Mééé. – Fez Felipe ao passar próximo de Fabiana, o resto da sala
caiu na risada, incluindo os professores, Jeff passou próximo a Felipe e o
derrubou discretamente. – Que isso idiota? Olha por onde anda!
- Desculpa Felipe, deixa eu te ajudar. – Ele pegou a mão de Felipe
e a apertou com força enquanto o encarava.
- Certo. – Ele olhou de lado para Jeff e se afastou de Fabiana sem
falar nada.
- Até amanhã Fabi. - Jeff sorriu para ela. - Tenho que sair antes,
destino diferente do nosso ônibus, nos vemos amanhã.
- Até Jeff. - Fabiana pediu autorização ao professor e foi ao
banheiro, já estava na hora de ir para casa e só teria que suportar aquelas
provocações por mais uns vinte minutos.
- Calma. – Fabiana estava de frente para o espelho do banheiro, é
só ignorar. – Ela colocou os fones de ouvido por dentro da blusa e soltou os
cabelos. – Idiotas. – Um som agudo foi reproduzido e logo em seguida estática.
- Essa é a C101 esperando o seu chamando. – Fabiana não acreditou,
havia conseguido a estação de rádio, estava sintonizada, ela ficou de costas
para o espelho, estava pálida.
- Trágico Boris, esse é o resultado de álcool e direção, muito
triste mesmo.
- O motorista do caminhão tomou todas, ultrapassou o sinal,
atropelou algumas pessoas no caminho e foi de encontro com aquele ônibus.
- Terrível, se a polícia tivesse chegado antes no Bar em que o
motorista armou a confusão.
- Foram 5 minutos que mudaram tudo, se as 21 horas a ligação
tivesse sido feita, ninguém teria morrido, já que a viatura havia passado por
lá fazia pouco tempo, se alguém soubesse de algo teria avisado a polícia e o
motorista teria sido detido. – Fabiana foi em direção aos professores que
estavam organizando os alunos para voltar para suas casas.
- Aqueles alunos não tinham culpa, não, não mesmo, eles eram
inocentes, estavam vindo de um passeio ao museu quando foram atingidos em cheio
pelo caminhão.
- Lamentável Boris, só podemos lamentar pelas vítimas do ônibus
081. – Fabiana parou subitamente, balbuciou algo incompreensível e correu até a
entrada do museu, em seus ouvidos agora só estática, seus colegas já estavam
quase todos acomodados, ela parou e olhou a traseira do ônibus, 081, levou as mãos
a boca.
- Vamos Fabiana, já estamos de saída. – Ela olhou para o relógio,
20 horas e 50 minutos, olhou para o ônibus e ensaio falar alguma coisa, mas foi
interrompida pelos outros alunos que estavam nas janelas.
- Olha só o
carneirinho, Mééé, Mééé, Mééé,
rosto rosado, pelos branquinhos, Mééé, Mééé, Mééé. – Cantavam das Janelas
induzidos por Felipe. – Rosto rosado, pelos branquinhos.
Ela pensou em avisar, sim ela pensou, talvez ligar para a polícia
como ouviu na estação de rádio, tinha tempo de sobra, mas também pensou em
todos os anos de humilhações e como o mundo seria melhor sem aquelas aberrações
e, já que a única pessoa com quem ela se importava havia ido embora mesmo, tomou
uma decisão, e estava pronta para viver com ela para sempre.
- Eu liguei para minha mãe professor e ela está aqui perto, está
vindo me pegar. – Fabiana deu um risinho.
- Tem certeza?
- Eu nunca estive tão certa de alguma coisa como estou agora.
O ônibus saiu e Fabiana ficou olhando ele sumir, ela riu,
gargalhou, as duas mãos no rosto, seguiu em direção a parada de ônibus mais próxima,
colocou os fones no ouvido e sintonizou a rádio.
- Isso mesmo Boris naquela mesma estrada minutos antes do acidente
com o ônibus um carro que tentou desviar do mesmo caminhão foi em direção a um
ponto de ônibus e atingiu um dos alunos que não tinha embarcado. – Fabiana
sentiu o sangue gelar. - a parada de ônibus foi destruída. – Ela olhou para a
parada, não podia ser, Jeff estava lá, mas como? Ele havia saindo há muito tempo,
Fabiana correu gritando em sua direção.
- Jeff, sai daí! Jeff!
Ele levantou a mão e acenou em sua direção. – Oi... - Não
conseguiu terminar a frase, um carro desgovernado surgiu na estrada derrubando
tudo que vinha pela frente, subiu a calçada e o atingiu.
Gostei desse bem tenso esse conto, deixa o kra tenso
ResponderExcluirNunca tem um final feliz não essas historias kkkkk muito boa mesmo
ResponderExcluirele não gosta mesmo de finais felizes kkk
ResponderExcluirsinistro
ResponderExcluir